A Petrobras está costurando um acordo com a portuguesa Galp para entrar no mercado europeu de combustíveis como exportadora de diesel ainda nesta década, relatam fontes da companhia, que estão participando da elaboração do novo plano de investimentos referente ao período de 2010-2015, previsto para o primeiro trimestre deste ano. Hoje deficitária em diesel, a companhia estuda rever os planos de algumas das refinarias projetadas - especialmente o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) - para aumentar a produção deste derivado em detrimento de outros.
"Há uma dieselização dos dois principais mercados consumidores, que são os Estados Unidos e a União Europeia. A tendência é de que o consumo deste combustível aumente muito nos próximos anos. Como teremos a produção excedente do pré-sal, vamos direcionar o processamento nas refinarias para este produto", disse uma alta fonte da estatal, destacando que o principal foco será o mercado europeu. "Nós já estamos nos Estados Unidos por meio da nossa refinaria em Pasadena e temos todo interesse em entrar no mercado europeu."
Consultada na semana passada sobre a perspectiva de aquisição da participação da italiana Eni na composição acionária da Galp, uma outra fonte da empresa foi reticente, dizendo que "todas as oportunidades sempre são avaliadas", mas reiterou que a possibilidade ainda era embrionária.
De acordo com uma terceira fonte, a Petrobras tem três frentes de atuação em Portugal. A primeira delas, já conhecida por meio de memorando assinado em 2007, que prevê a operação de blocos exploratórios na Bacia do Peniche, além da instalação de uma unidade de processamento de biodiesel. Desta etapa, a unidade de biodiesel ainda não saiu do papel, mas a atividade exploratória já foi iniciada. O consórcio operado pela Petrobras, em parceria com a Galp e a Partex, prevê a possibilidade de perfuração de poços em 2011.
"A área é bastante promissora por apresentar semelhança geológica com as mais recentes descobertas na costa do Canadá", comentou um observador próximo, lembrando que os custos de perfuração no local devem girar em torno de US$ 50 milhões, um valor bem próximo do atual custo do pré-sal brasileiro (US$ 60 milhões), apesar de ser em uma área menos profunda. O contrato prevê um período de oito anos para a exploração, envolvendo a exploração sísmica e a perfuração de poços, com uma previsão de investimentos iniciais de 400 milhões de euros.
A segunda frente de atuação seria a compra de participação em consórcio que visa a exploração em águas profundas na Bacia do Alentejo. O consórcio responsável pela área, que começa a ser perfurada este ano, era inicialmente composto pela Galp, Partex e uma empresa australiana, Hartman, que já teria passado estes ativos para outra companhia britânica. Esta, por sua vez, estaria concluindo as negociações para venda destes ativos para a Petrobras.
Já a terceira frente de atuação, a maior delas, visa a aquisição de capital acionário da Galp ou formação de uma parceria estratégica para atuação em conjunto no mercado de derivados europeu. "A compra da participação da Eni é apenas uma das estratégias que estão sendo avaliadas", disse uma fonte da companhia.
O principal interesse da Petrobras nos ativos da Galp é o Terminal de Granéis Líquidos (TGL), o maior do país e um dos maiores da Europa, cuja administração foi repassada pelo governo português para sua companhia, que tem participação estatal. O repasse da administração do terminal se deu em 2008 por meio de concessão por um período de 30 anos, a um valor fixo de 51 milhões de euros. A Galp já investiu 1,2 bilhão de euros no local. O local tem capacidade para receber navios de porte de até 350 mil toneladas e permite a movimentação simultânea de diferentes produtos.